Este livro não nasceu no formato que hoje chega às mãos dos leitores, e sim como um roteiro para um filme realizado por Antônio Calmon, com Norma Bengell, Anselmo Duarte, Nuno Leal Maia, Pedro Camargo e Ana Maria Magalhães no elenco. Quando depois a produtora encomendou a Cony um texto para lançar junto com o filme, ele preferiu esquecer o roteiro original e o filme, e escreveu o romance em sua forma atual. Um livro cheio de coragem e fúria. Que pode até ser lido como um thriller de horror. Mas, no rastro de sua leitura, fica o desconforto da constatação de que qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência. Pior que isso: de que não há inocentes nessa história. Quando Carlos Heitor Cony escreveu Paranóia - A Noite do Massacre, há mais de duas décadas, o Brasil estava muito longe de desconhecer a violência. No entanto, esta narrativa crua, uma das mais brutais produzidas por nossa ficção, tornou-se hoje ainda mais familiar para nós, brasileiros, do que à época de sua criação. Paranóia é a história de uma rica família paulista que, durante toda uma noite de horror, torna-se refém de uma quadrilha de sangüinários bandidos. Um quadro hoje - para nosso infortúnio - quase banal, não fosse o toque de mestre de Cony, que ilumina a humanidade profunda que habita os personagens de cada um dos lados. Isso se pudéssemos realmente falar em dois lados, em "mocinhos" e "bandidos" - mas será que podemos? Paranóia é um livro para estômagos fortes. Indicado somente para os que não temem encarar a realidade.